Sumário Executivo

Na próxima década, a economia global precisará investir quase 3,5% do PIB por ano (USD 4,2 trilhões) para preparar as infraestruturas sociais, de transporte, energia e digitais contra megatendências como urbanização, rupturas nas cadeias de suprimentos e digitalização impulsionada pela IA. Mudanças demográficas e urbanização são os principais motores da demanda por infraestrutura em mercados emergentes, enquanto a infraestrutura envelhecida precisa de modernização em mercados desenvolvidos. Ao mesmo tempo, tensões geopolíticas e os impactos da pandemia expuseram a fragilidade das cadeias de suprimentos, levando EUA e Europa a trazerem de volta (“reshoring”) ou transferirem para países aliados (“friendshoring”) parte da manufatura crítica, aumentando a demanda por instalações industriais domésticas e infraestrutura logística associada (armazéns, portos, ferrovias). A infraestrutura digital já luta para acompanhar o salto na demanda por energia, à medida que os data centers se multiplicam em ritmo recorde com o boom da IA. Estimamos que os EUA precisem investir mais de USD 1 trilhão nos próximos 10 anos em infraestrutura não energética, especialmente em rodovias. A China precisará alcançar USD 1,5 trilhão, enquanto a Índia demandará cerca de USD 1 trilhão. França, Alemanha, Reino Unido e Espanha precisarão investir, juntos, cerca de USD 0,5 trilhão. No total, a economia global terá que gastar USD 11,5 trilhões ao longo de 10 anos, sendo dois terços desse montante necessários em economias emergentes. A América Latina exemplifica bem essa dinâmica: a região enfrenta necessidades específicas de infraestrutura impulsionadas por redirecionamento de rotas, friendshoring e diversificação comercial, mas os desenvolvedores ainda precisam lidar com níveis elevados de risco.

O movimento global para reduzir emissões de carbono e eletrificar a economia é o maior catalisador para o investimento em infraestrutura, podendo alcançar entre USD 26 trilhões e USD 30,2 trilhões até 2035 (69% do total). Apesar do investimento em geração renovável ter dobrado na última década, o desenvolvimento de infraestrutura – como redes e armazenamento – ficou para trás, criando gargalos e elevando os custos do sistema. Apenas na Europa, estima-se que serão necessários USD 110–150 bilhões por ano para desenvolver redes elétricas e sistemas de armazenamento de energia, com grandes aportes voltados para redes de distribuição, transmissão e interconexões entre países. Globalmente, o déficit anual de investimentos em infraestrutura de energia permanece em USD 1,5 trilhão, com subinvestimento particularmente grave nos EUA e em mercados emergentes. Fechar essa lacuna é essencial não apenas para atender à crescente demanda por eletricidade, mas também para cumprir metas climáticas e fortalecer a segurança energética.

Nesse contexto, o capital privado deixou de ser apenas um complemento para se tornar a pedra angular do financiamento global de infraestrutura, com ativos não listados sob gestão saltando de menos de USD 25 bilhões em 2005 para mais de USD 1,5 trilhão em 2024. Os investidores estão migrando do transporte tradicional e utilidades para plataformas ligadas à transição energética e digital (redes, armazenamento, data centers, fibra). Além do capital, essa mudança traz ganhos de eficiência ao longo do ciclo de vida, maior disciplina de entrega e compartilhamento de riscos por meio de parcerias público-privadas, participação direta e o mercado em rápido crescimento de dívida privada em infraestrutura. Hoje, as alocações já são segmentadas por risco, priorizando fluxos de caixa estáveis e indexados à inflação em vez de retornos elevados semelhantes aos de private equity. A maioria dos investidores busca retornos de 6% a 10%, em linha com nossa projeção de 8% a 10%.

A próxima fase de investimento em infraestrutura global precisa ser marcada tanto por ambição quanto por execução. Embora mobilizar 3,5% do PIB global ao ano seja necessário, não é suficiente. O que importa agora é alinhar capital, políticas públicas e design dos sistemas para superar os obstáculos reais que ainda atrasam a execução. As barreiras são cada vez mais estruturais, variando de atrasos em licenciamento e congestionamento das redes até marcos regulatórios fragmentados e falta de capacidade institucional em mercados emergentes e em desenvolvimento (EMDEs). Enfrentar esses desafios exigirá uma dupla mudança. Primeiro, os governos precisam acelerar aprovações de licenciamento e uso da terra, harmonizar marcos regulatórios e de remuneração entre jurisdições e introduzir mecanismos de tramitação prioritária para projetos estratégicos. Simplificar e digitalizar processos de contratação pode reduzir prazos e aumentar a transparência. Fortalecer estruturas de preparação de projetos e assistência técnica, especialmente em regiões de baixa renda, será fundamental para transformar ideias em projetos viáveis. Também será crucial aumentar a capacidade de autoridades subnacionais e de empresas estatais, que frequentemente são os principais executores. Do lado dos investidores, será preciso migrar de alocações amplas para estratégias mais específicas, baseadas em temas como sistemas de energia, infraestrutura digital, mobilidade urbana resiliente e infraestrutura social, para garantir retornos resilientes e indexados à inflação. Um uso maior de mecanismos de financiamento misto e ferramentas de mitigação de risco também será necessário para mobilizar capital em escala em regiões de maior risco. Sem esse alinhamento, a execução continuará sendo o gargalo. Os custos do sistema aumentarão, ativos encalhados se multiplicarão e a distância entre a ambição em infraestrutura e a entrega física só tenderá a crescer.

 

Jordi Basco-Carrera
Allianz SE

Yao Lu

Allianz Trade

Patrick Hoffmann
Allianz SE
Luca Moneta
Allianz Trade
Ano Kuhanathan
Allianz Trade