Recuperação Judicial e Falências devem aumentar em 2023, não só no Brasil, mas globalmente, é o que projetam especialistas. 

O período mais crítico da pandemia do Covid-19 (2020 a 2021) foi adverso às expectativas de crescimento do volume de falências e recuperações judiciais de empresas. Esperava-se um aumento expressivo desses indicadores em face a menor atividade econômica no período. Algumas projeções iniciais indicavam que os pedidos de recuperação judicial pudessem atingir a marca de 5 mil requerimentos em 2020, o que seria muito superior ao recorde de 1.863 pedidos de 2016;

Segundo dados da Serasa, em 2019, as falências decretadas somaram 919 casos enquanto as recuperações judiciais somaram 1.259 nesse ano. No primeiro ano da pandemia (2020), as falências decretadas tiveram queda de 25%, seguidas de queda de 10% em 2021 e aumento de 8% em 2022. O número de recuperações judiciais deferidas caiu 27% em 2020, 21% em 2021 e 4% em 2022. Outros indicadores importantes e que corroboram com as quedas de falências e recuperações judiciais apresentadas em 2020, 2021 e 2022 foi número de empresas inadimplentes e o montante de dívidas inadimplentes nesse período: 2020 apresentou queda de 5% no número de empresas inadimplentes, enquanto o volume de dívidas em inadimplência apresentou queda de 9% em 2020 e 8% em 2021;

As quedas dos indicadores apresentadas nesse período foram justificadas pelas ações do governo em prol da população, estimulando o consumo e protegendo as empresas de dificuldades financeiras no período. 

Entretanto, em linhas gerais, os indicadores começaram a apresentar deterioração a partir de 2022. Ainda segundo a Serasa, as falências decretadas aumentaram 8% em 2022 e seguem em tendência de alta nos primeiros meses do ano. Além disso, ainda em 2022, o número de empresas em estado de inadimplência aumentou 8%, enquanto o montante de dívidas em inadimplência cresceu 14%. Essa piora generalizada dos indicadores é reflexo dos maiores desafios econômicos esperados para 2023. A menor atividade econômica, juros em patamares elevados, inflação ainda em níveis elevados e maior seletividade dos bancos na concessão de crédito justificam a tendência de piora desses indicadores;

Os números mais recentes divulgados pela Serasa indicam que o requerimento de falência cresceu 57% em janeiro de 2023 quando comparado com janeiro de 2022. O requerimento de recuperação judicial aumentou 37% nesse mesmo mês e o deferimento aumentou expressivamente em 179%. Os resultados de janeiro de 2023 mostram a tendência de alta esperada para 2023. A Serasa ainda afirma que esse crescimento atinge empresas em diferentes portes, portanto, as dificuldades assolam empresas de pequeno, médio e grande porte. As projeções da Serasa são de mais de mil pedidos de recuperação judicial para esse ano e apesar da piora do indicador, não se espera que os pedidos ultrapassem os níveis atingidos entre 2015 e 2017, o que de certa forma é positivo;

Espera-se que os setores mais afetados sejam de empresas atuantes no varejo, construção e outros setores industriais de bens duráveis. O setor de serviço deve ser o menos afetado devido a forte retomada da atividade econômica no pós-pandemia. Obviamente, a performance das empresas vai depender substancialmente do nível de consumo do país e projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil;

O crescimento dos pedidos de recuperação judicial e falência para esse não se limitam ao Brasil. A Allianz projeta um crescimento de insolvência global para 2023 na ordem de 21% e 4% em 2024. Os destaques negativos estão na França, cujo volume de insolvências deve crescer 41% em 2023, seguido de Estados Unidos (+49%), Itália (+24%) e Alemanha (+22%). A China deve apresentar uma piora menos acentuada, de 4%. As justificativas principais para a projeção de maior insolvência global estão relacionadas ao menor crescimento econômico global esperado para 2023 e 2024. Além da demanda, pressão prolongada sobre a lucratividade, reservas de caixa mais fracas e condições financeiras mais apertadas por mais tempo estão testando a resiliência do empresas mais frágeis, além da menor disponibilidade de crédito esperada;

Para América Latina, as projeções da Allianz indicam um crescimento de insolvência na ordem de 20% em 2023 e 3% em 2024, muito em linha com a piora global. Para o Brasil, a projeção é de um acréscimo do nível de insolvência de 29% em 2023 e 10% em 2024, o que apesar de estar acima da média da América Latina é inferior as projeções da América do Norte e Europa. Apesar das projeções para Brasil indicarem uma piora do indicador de insolvência para 2023 e 2024, o volume esperado é ainda inferior ao ocorrido em 2019, período pré-pandemia;

Além da alta inflação global e elevada taxas de juros que assolam as economias globais, a Allianz aponta outros fatores que podem acarretar as empresas a condições menos favoráveis em 2023, tais como: queda de receita, dificuldade de acesso ao mercado de crédito atrelado a mudanças regulatórias que envolvem os bancos, volatilidade do câmbio e disrupção na cadeia de suprimentos. A Allianz ainda pontua que o número global de insolvências representa maioritariamente a situação das Pequenas e Médias Empresas. No entanto, agora nota-se uma evidência do aumento nas insolvências se espalhando para grandes empresas. Dada a sua longa lista de fornecedores, isso implica um maior risco de efeito dominó;

As projeções das condições econômicas globais para 2023 indicam grandes desafios para as empresas. Essas condições certamente levarão o mercado para um cenário de menor volume de vendas e margens, potencializado ainda mais pela alta da inflação, crédito custoso e de mais difícil acesso. Essas condições podem deteriorar a performance das empresas e, por consequência, elevar o volume de insolvências. 

Rafael Guarento, Superintendente de Risco de Crédito

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