O novo mandato do presidente Lula passa por um início difícil, mas não são os atos de vandalismo dos apoiadores do ex-presidente do Brasil que vem abalando tanto os mercados quanto as preocupações com o crescente déficit fiscal.

O início da nova administração trouxe à tona alguns pontos alarmantes para os investidores, tais como;

A decisão de não privatizar a Petrobras e a próxima mudança na política de preços de combustíveis;

Declarações contraditórias de ministros, apontando uma falta de coordenação política;

A extensão da isenção de impostos federais sobre o combustível e a flagrante falta de posicionamento do atual presidente a respeito da reforma fiscal e a gestão de dívidas.

Como resultado, os ativos brasileiros, não se beneficiaram totalmente do clima positivo nos mercados globais. O setor financeiro e algumas das grandes empresas especialmente vulneráveis a política mais intervencionista, foram os mais afetados (especificamente, a Petrobras).

Em resposta ao estresse do mercado, o governo mudou para uma vertente mais conciliadora, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tomou medidas para reduzir o déficit fiscal em 2023 (estimado em 1,9% do PIB por enquanto). Apesar do Brasil ainda possuir um longo caminho a percorrer, as medidas foram adotadas principalmente a curto prazo, focando no aumento das receitas ao invés do corte de despesas. Além disso, não há garantia de que as metas previstas serão alcançadas.

Nesse contexto, não esperamos uma estabilização da dívida pública, podendo chegar a perto dos 100% do PIB ao final do mandato do presidente Lula.

É provável que o anúncio tenha sido feito para dar ao governo mais tempo para trabalhar em uma reforma tributária e em uma nova regra no teto de gastos, que pode ser anunciada ainda no mês de Abril ou no máximo em Junho, segundo o ministro Fernando Haddad. Medidas mais estruturais como esta, serão fundamentais para ancorar as expectativas e abrir espaço para que o Banco Central (BCB) reduzir os juros.

Um levantamento recente do Banco Central (BCB) aponta que os mercados elevaram suas projeções de inflação e projetam cortes menores para a taxa Selic em 2023, sinalizando claramente a preocupação dos mercados com o descompasso entre política monetária e fiscal. Isso também foi observado nos movimentos experimentados no mercado de títulos, onde os rendimentos dos vencimentos de médio e longo prazo subiram desde o terceiro trimestre de 2022 (Figura 3), em disparidade com os soberanos globais, onde a inversão se aprofundou, e os rendimentos dos títulos longos - os vencimentos a prazo tem se mantido estáveis ou diminuíram.

Figura 3. Curva de rendimento soberano Brasil-BRL (%)
Sources: Refinitiv, Allianz Research
Como o governo enfrenta uma forte pressão para aumentar os custos, incluindo um alto reajuste do salário mínimo, esperamos que a volatilidade nos mercados brasileiros continue até que um plano fiscal confiável seja feito, ainda que a turbulência gerada pelos protestos não tenha tido um forte impacto nos mercados, a análise dos investidores estrangeiros vai aprofundar-se e poderemos assistir a um abrandamento dos novos investimentos – as empresas espanholas, e em particular o seu setor financeiro, são as que apresentam maior exposição para o país.