Integração do comércio na região Ásia-Pacífico

A integração econômica e comercial na região Ásia-Pacífico em um mundo pós-Covid-19 pode ser impulsionada por mais acordos de livre comércio e pela mudança do equilíbrio econômico global em favor da região - que engloba várias potências globais em crescimento. O comércio intrarregional na região Ásia-Pacífico já é bastante elevado em comparação com outras regiões. As transações intrarregionais na região Ásia-Pacífico representaram 25% de todo o comércio global na década de 2010 (17% e 6% para a UE27 e o NAFTA, respectivamente).

A Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, Regional Comprehensive Economic Partnership) assinada entre a região ASEAN + cinco países em novembro de 2020 enviou um forte sinal em favor de uma integração contínua e fortalecida. Em particular, constatamos que a regra de origem comum poderá impulsionar o comércio intrarregional em cerca de USD 90 bilhões por ano. Além disso, regras menos restritivas na RCEP em comparação com outros acordos de livre comércio devem gerar menos impedimentos para as trocas comerciais. Não há disposições sobre normas ambientais e trabalhistas, que sempre são incluídas nas negociações envolvendo os EUA e a UE. Outro exemplo é que na regra de origem comum estabelecida pelo RCEP, é necessário apenas 40% de conteúdo regional para que uma mercadoria seja considerada de origem RCEP. Já o Acordo EUA-México-Canadá assinado em 2018 estabelece um limite de 75%; além disso, há uma regra de conteúdo de valor de trabalho (40-45% do conteúdo deve ser feito por trabalhadores na região ganhando pelo menos USD 16 por hora).

Separadamente, a RCEP pode abrir caminho para discussões sobre novos acordos de livre comércio. É o primeiro acordo comercial a cobrir as relações bilaterais China-Japão e Japão-Coreia do Sul, e a expectativa mais otimista se refere ao acordo de livre comércio China-Japão-Coreia do Sul. As negociações para o acordo começaram em 2012, mas tensões bilaterais esporádicas impediram um progresso decisivo. No início de novembro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping prometeu “acelerar as negociações referentes ao tratado de investimento China-UE e a o acordo de livre comércio China-Japão-Coreia do Sul”.

Figura 1: Participações comerciais intra-regionais (%)

Nota: ASEAN + 5 engloba os países da ASEAN, Austrália, China, Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia, os signatários da Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP).

Fontes: Centro de Comércio Internacional, Euler Hermes, Allianz Research

QUAIS PAÍSES SE BENEFICIARÃO MAIS COM O AUMENTO DA INTEGRAÇÃO?

Apesar da integração Ásia-Pacífico como um todo, as economias da região não estão igualmente posicionadas para colher os benefícios. Para definir quais economias podem ter um desempenho melhor, examinamos (1) especialização e competitividade das exportações e (2) complementaridade comercial dentro da região. Concluímos que a China, a Coreia do Sul, Singapura e o Japão são os que mais podem se beneficiar com a ampliação da integração comercial Ásia-Pacífico.

Para medir e comparar o potencial de exportação de cada economia, construímos índices de vantagem comparativa setorial. Em seguida, examinamos as correlações por pares de países para comparar a competitividade e as estruturas das exportações (ver Figura 2). Vários resultados se destacam:

  1. As economias desenvolvidas – Austrália, Nova Zelândia e Japão em menor grau – exibem perfis de competitividade de exportação que são particularmente diferentes da maioria das outras economias da região. Isso implica padrões de especialização setorial para esses países que são relativamente únicos na região. Para a Austrália e a Nova Zelândia, as exportações estão comparativamente mais expostas às commodities. Para o Japão, a vantagem comparativa é muito elevada nos setores de veículos e máquinas. O índice de vantagem comparativa médio também é notavelmente mais alto do que em outras economias (exceto para a China).
  2. A Índia e a Indonésia exibem perfis relativamente semelhantes, com baixa correlação com a maioria das outras economias. Isso reflete o fato de que suas exportações são voltadas tanto para commodities quanto para produtos manufaturados (de baixo valor agregado). Entre os dois países, a Índia tem aumentado sua competitividade de exportação mais rapidamente nos últimos anos (ver Figura 2).
  3. Quatro Tigres Asiáticos e o resto da Ásia emergente. Os perfis de competitividade de exportação dos Quatro Tigres Asiáticos são semelhantes e próximos aos da China, Filipinas, Vietnã e Malásia (e da Tailândia, em menor grau). Isso sugere tanto uma integração da cadeia de suprimentos entre essas economias quanto mais concorrência. Uma comparação ao longo do tempo (ver Figura 2) mostra que o Vietnã e a Coreia do Sul parecem relativamente mais competitivos neste grupo, pois conseguiram aumentar o número de setores em que têm vantagem comparativa e intensificar seu desempenho superior. A China, em parte graças ao tamanho de sua economia, e o Japão exibem uma vantagem significativamente maior nos setores que são mais negociados globalmente.

O desafio está em como navegar por esse equilíbrio que muda gradualmente na economia global e, mais especificamente, a rivalidade EUA-China. Para muitas economias (por exemplo, a UE), o objetivo será definir uma estratégia comercial com a Ásia, preservando a aliança com os EUA. As empresas devem prestar atenção aos ambientes competitivos potencialmente diferentes entre as regiões, pois os acordos comerciais na Ásia-Pacífico às vezes têm padrões menos restritivos. De uma perspectiva setorial, espere mais integração de comércio e investimento em aparelhos mecânicos e equipamentos elétricos na Ásia.

Figura 2: Correlações dos índices de vantagem comparativa setorial em 2019, por pares de países

Fontes: Centro de Comércio Internacional, Euler Hermes, Allianz Research
Figura 3: Mudança ao longo do tempo na vantagem comparativa setorial na região Ásia-Pacífico